sexta-feira, outubro 20, 2006

Golpe de Estádio #03: As Personagens

PINTO DA COSTA:
Começou no FC Porto nos anos 60 como dirigente do andebol, passando depois pelo hóquei em patins e pelo boxe. Nessa altura era um simples gerente de uma empresa de fogões.
Chegaria a chefe do departamento de futebol apenas no final da década de 70, no mandato de Américo de Sá. Tomou o poder e impôs a sua lei. Foi gerente de uma empresa chamada Pincor do ramo das tintas, que terminou os seus desgraçados dias com avultadas dividas á banca. Aliás como todas as empresas onde se meteu. Algumas de electrodomésticos. Todas faliram. Devido ás muitas falcatruas que fez, incluindo passar cheques sem cobertura, foi condenado e proibido de passar cheques e de constituir empresas. Para deixar a empresa onde trabalhava, Pinto da Costa ainda teve que pagar sete mil contos e ficou sem carro por uns tempos. O milhão e tal de contos das transferências de Futre e Rui Barros tinha desaparecido sem deixar rastos e tinha deixado de...rastos PC, a contas com a justiça, por cheques sem cobertura e penhoras a bens pessoais. Foi um momento difícil, mas que não abateu o presidente, levando-o antes a pensar que o seu negócio era o futebol. Esteve sem ir a Aveiro durante 5 anos por causa de alguns processos por falências fraudulentas. Os seus sócios dessas empresas tiveram que fugir para o Brasil. Mas a ele alguém lhe pagou as dívidas. Alguns poderosos do Norte, como Belmiro de Azevedo, Artur Santos Silva, etc. No princípio chegou a investir muito do dinheiro que tirava do FC Porto, nas empresas de familiares seus mas faliram todas. Depois passou a ficar com tudo. Criou a Cosmos, agência de viagens que lucrou imenso com as viagens dos clubes, obteve exclusivos com a Federação que obrigavam os clubes a viajar nessa agência. Esteve metido no negócio da droga, com Luciano D´Onofrio (Aveiro Connection). Com a Olivedesportos fez muito dinheiro, como com todos os negócios do FC Porto, vendas e compras de jogadores, corrupção de árbitros, etc. Assim enriqueceu e tem hoje uma considerável fortuna.
Estudou num seminário, onde desde novo mostrou as capacidades que hoje lhe são reconhecidas.
Pinto da Costa passou a sua idade escolar num colégio onde imperava um grande influência da religião católica e quando atingiu o liceu foi internado num colégio de padres (Jesuíta). Dos mais prestigiados do Norte do País. Ali fabricavam-se verdadeiros homens. Eram testados como cobaias para poderem enfrentar no futuro as mais adversas contrariedades da vida. Uma das disciplinas era constituída pela defesa individual de cada aluno perante toda a turma e, já nessa altura Pinto da Costa era o mais desenvolto no uso no discurso, na sua capacidade de raciocínio rápido e retenção na memória de dados essenciais. Inteligente e astuto como um verdadeiro jesuíta, bem cedo começou a demonstrar um grande sentido de chefia. Sabia como dividir para reinar, utilizando um ar cândido e descomprometido quando algumas atitudes de má-fé lhe eram dirigidas. Atirava a pedra e sabia como esconder a mão. Mas a sua verdadeira arma era a grande capacidade de trabalho e a completa dedicação a tudo o que fazia. Chegou a pensar ordenar-se padre, e o director do colégio apostava que , se ele seguisse essa carreira, iríamos ter o segundo papa português. A sua postura, a sua forma de falar e de estar deram-lhe sempre um toque clerical. A mesma mão que abençoava os amigos, empunhava a cruz onde ele havia de crucificá-los. Cativava, fazia amizades com facilidade e sabia como as utilizar e destruir como se nunca tivesse culpa de nada. Sendo religioso não pensava sequer em trair a sua esposa. Mas quando foi iniciado por Reinaldo Teles nas suas casas de sexo, tomou-lhe o gosto. Ficou viciado. Aliás a sua actual mulher, da qual tem uma filha, é uma ex-prostituta que conheceu num dos bares de Reinaldo Teles. Também usou anfetaminas durante algum tempo. Para aguentar as vitórias, o fanatismo anti-mouros, a idolatria que os adeptos do clube lhe devotavam, a guerra que os seus inimigos lhe moviam e as sessões diárias de sexo era preciso muito "speed".

REINALDO TELES:
Empresário da noite, ex-campeão de boxe, dirigente desportivo. A sua fulgurante ascensão no clube que sempre amou: chulo, pugilista, seccionista, segurança (capanga), chefe dos capangas (mais tarde passou a ser Joaquim Pinheiro, seu irmão), amigo pessoal do patrão, seu confidente e finalmente, único homem em quem ele confiava.
Em 1981/82 Reinaldo Teles, campeão nacional de boxe e na altura treinador, foi a solução encontrada por Américo de Sá(presidente da altura), para controlar as agitadas assembleias gerais. Ex-pugilista, brigão, chulo e nutrindo uma certa paixão por negócios ilícitos, ofereceu-se para arrumar a casa e impor a ordem nas confusões programadas por Pinto da Costa. Era treinador de boxe do clube e reuniu os seus rapazes para patrulharem a sala, e o certo é que com alguns murros e cabeçadas acabou por conquistar o lugar de chefe da segurança de Américo de Sá.Nessa altura, Pinto da Costa temia-o, porque não era um brigão vulgar e muito menos um marginal estúpido e incompetente. Reinaldo Teles tinha um espírito e uma personalidade muito idênticos aos de Pinto da Costa. Dava as ordens para descascar á fartazana e depois surgia como o apaziguador, o bom rapaz que nada tinha a ver com toda aquela violência. Pinto da Costa detestava-o, mas viu nele a solução para o futuro.

Reinaldo Teles era um ás a esgrimir os punhos, sabia avaliar com grande exactidão a capacidade dos seus adversários, e quando não os podia vencer trazia-os para junto de si. Um anjo, este rapaz que veio bastante jovem de uma aldeia transmontana para servir numa tasca de um tio. O estabelecimento estava aberto toda a noite, numa altura em que ainda existiam poucas discotecas. E as que funcionavam em pleno estavam viradas para o alterno e a prostituição. Mas R. Teles sabia que "putas e vinho verde" só combinam nas horas e nos locais certos. Havia que tratar da vidinha. Ainda estava longe de ser o rei da noite.
Ajudava o seu tio pela madrugada dentro e vivia com entusiasmo as cenas de pancadaria entre azeiteiros, putas e marginais. O seu sonho era um dia vir a ser como eles. Homens valentes, com charme, e mulheres tratadas a pontapé a levarem-lhes o apuro da noite e o que até tinham roubado ao prazer. Deu uma tareia a um chulo por causa de uma das suas prostitutas, com quem perdeu a virgindade. Os dois estavam apaixonados. A prostituta gostava do miúdo, era forte e atrevido, mas para ficar com ele tinha de pensar numa forma de o proteger. Reinaldo tinha punhos, mas faltava-lhe a experiência. De súbito, veio a solução. Ela tinha um cliente que era treinador de boxe do maior clube da cidade (Porto) e ia-lhe apresentar Reinaldo Teles para o rapaz poder ir lá fazer uns treinos. Uma semana depois, o tal treinador de boxe disse á prostituta que Reinaldo tinha futuro. A partir daí, quando as coisas aqueciam na tasca do seu tio, R. Teles fazia uns treinos extra, passando a ser conhecido e respeitado. Depois de fechar a tasca, aproveitava a boleia de um amigo e ia ter com a sua amada prostituta, que atacava em Santos Pousada. Reinaldo começou a somar êxitos no boxe e acabou por deixar o emprego na tasca do seu tio para se colocar como segurança e porteiro numa casa de alternos. Foi aí que conheceu a sua futura mulher, também puta (Luísa Teles, actual dirigente do FCP).
Reinaldo Teles tinha-se tornado num dos chulos mais importantes da cidade e, com a ajuda da nova puta, acabou por comprar o seu próprio estabelecimento. O rapaz tinha jeito para o negócio, e a sua namorada tinha uma perspicácia tremenda para escolher as melhores putas. Ambicioso, inteligente, hipócrita e já com algum poder económico, Reinaldo Teles tinha apenas mais um sonho: ser campeão nacional de boxe. Ele era bom de punhos, mas havia outros melhores. Com algum sacrifício e habilidade, conseguiu chegar á fase que lhe permitiu disputar o título. O seu adversário era poderoso e Teles não se podia arriscar a deixar fugir o seu sonho. Sempre inclinado para negócios marginais, colocou logo em prática um plano diabólico. Ele sabia que no boxe profissional a corrupção por parte de grupos marginais era uma prática constante e quase normalizada, e num ápice resolveu o seu problema. Contactou o seu adversário, negociou a vitória no terceiro "round" e um KO mal disfarçado deu-lhe a oportunidade de saltar no ringue elevando as luvas em sinal de vitória. Era importante para o seu negócio que os jornais noticiassem no dia seguinte que ele era o novo campeão nacional de boxe. Aquele título significava respeito e medo. Os factores mais importantes para quem quer gerir com tranquilidade uma casa de alternos e de prostituição.
Este fora o seu primeiro acto no mundo da corrupção, e Teles ficou fascinado com o poder do dinheiro. Afinal, ele tinha feito um investimento altamente rentável. Pagou para conquistar o título, realizou o seu sonho e duplicou a facturação no seu estabelecimento. Ninguém se arriscava a criar conflitos na sua área de alternos e muito menos a deixar contas penduradas.
Os punhos de um campeão eram sempre temidos.

JORGE GOMES:
Ex-jornalista e ex-bate chapas promovido á pressão como paga de favores no tempo da sua meteórica ascensão como dirigente desportivo. Mestre na confecção de coisas miúdas, destacava os jornais para o patrão, e ocupava-se dos famosos arquivos, usados para Pinto da Costa arrasar os seus inimigos na comunicação social, aliados claro á sua boa memória. Jorge Gomes foi corrido da SAD do FCP, por se ter zangado com Pinto da Costa e hoje trabalha com José Veiga.

6 comentários:

bgvp disse...

Sem papas na lingua e sem medo de chamar os nomes aos bois, mt bem ppa, mtas dessas coisas são cnhecidas em todo o lado mas muitas outras...sem duvidas são novos factores a juntar a tao ilicitas personagens.

Corruptos para eles é pouco.

São td o de pior que existe.

Thor disse...

Demonstram bem o nivel de ainda grande parte do dirigismo desportivo no futebol português!

RG54 disse...

Grande trabalho de investigação PPA, esperemos que o que vais ainda, seguramente, acrescentar-lhe possa contribuir ainda e cada vez mais para o conhecimento SUSTENTADO que é importante que as pessoas tenham, relativamente a um assunto que ainda alguns recusam reconhecer como sendo um dos maiores "cancros" da vida desportiva portuguesa. Pelo que sei moras no Porto e logicamente sentes estas questões mais profundamente na "pele" que eu que moro aqui em Lisboa e que por essa razão sou muito mais "visado" pelas trafulhices dos lampas do que pelas dos patrões do fcp. No entanto, também ainda não perdi a esperança, de que alguém se digne contar a parte do "polvo" que diz respeito a ALGUNS dos actuais corpos sociais dos lampas, porque se o P. da Costa é quem se sabe, as ligações que tinha com LFV e JV antes de estes serem dirigentes do slb, deverão, de certeza, ser dignas de um bom argumento de Mário Puzo. Cumprimentos e continua com o teu bom trabalho de investigação e divulgação deste GOLPE DE ESTADO. Saudações Sportinguistas.

Peyroteo disse...

Como digo no 1º post relativo ao "golpe de estádio"; vou colocar as palavras de Marinho Neves e não as minhas, para não ser acusado de faccioso e de distorcer a verdade.

Peyroteo disse...

Tenho um colega de curso da faculdade, cujo pai trabalha com electrodomésticos, numa grande empresa do centro do país; que foi MUITO burlado aqui há uns anos pelo PC.
E isto é verdade... As pessoas até são simpatizantes do FCP, mas só isso; e como devem calcular nem podem ver o PC á frente!

pumba no piu piu disse...

Que post fantástico! Deviam ter um assim do orelhas e do veiga também! De qualquer forma, incrível. É esta a cambada que anda pelo futebol nacional e depois queixam-se....