quinta-feira, novembro 30, 2006

Futebol: Reavivando a memória do "levezinho"...

Como pela 1ª vez não vou poder acompanhar um derby Sporting x Benfica, aqui fica a minha mensagem para reavivar a memória do nosso Levezinho. Afinal parece que o Luisão está recuperado e vai jogar...


Propostas para modelos das competições Nacionais

Gostaria de começar por falar num assunto que sei é impossível de se modificar, pois nos dias de hoje a televisão “comanda” as datas e horas do futebol, o que até é mau, porque temos que levar com os jogos ás Sextas, Sábados, Domingos e até Segundas; muitas vezes á hora do jantar, o que até pode fazer mal á saúde.
Para mim todos os jogos deviam ser ao Domingo ás 16:00; e teria apenas transmissão televisiva o jogo mais importante.
Para mim a última jornada continua a ser espectacular com os jogos ao mesmo tempo e os golos a cair catadupa!

Modelo1:
Campeonato com 20 equipas a 2 voltas, descendo 4 equipas.
Liga de Honra com 2 zonas de 20 equipas cada, subindo 2 equipas de cada zona e descendo 4 equipas de cada zona. As zonas seriam Norte e Sul, correspondendo a Norte aos Distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Bragança, Aveiro, Coimbra, Viseu, Guarda e Castelo Branco. A Sul, aos restantes Distritos do País.
Para salvaguardar as zonas, e caso desçam por exemplo 4 equipas para a Zona Sul, as 2 equipas mais a Norte, jogariam na Zona Norte.

Modelo2:
Campeonato com 10 equipas a 4 voltas, descendo 2 equipas.
Liga de Honra com 2 zonas de 20 equipas cada, sendo que no final os 2 primeiros classificados de cada zona disputariam um campeonato a 4 equipas, subindo 2.

Desempates Pontuais:
Caso 2 (3 ou mais não!) equipas terminem igualadas em pontos para a conquista do campeonato, realização de eliminatória a 2 mãos tipo Competição Europeia.

Preço dos Bilhetes:
Proibido em situação alguma, um bilhete para um lugar normal nos estádios, passar de 10% do ordenado mínimo, digamos de 40€.

Arbitragem:
- Relatórios, Notas e Declaração de Rendimentos divulgados de forma livre pelos meios de comunicação interessados: Televisão, Rádio, Jornais, Internet…
Isto iria ser o “melhor amigo” dos árbitros que realmente pretendem ser honestos, pois quem não deve não teme e essa coisa do “quanto mais roubas” melhor classificado és, tem que acabar.
- Árbitros com erros grosseiros e técnicos, devidamente castigados, ou seja, com más Notas e de castigo 1,2 ou até mais jogos.
- Se possível, os árbitros também prestarem declarações, tipo conferência de imprensa, onde poderiam dizer coisas do género:
a) não marquei penalty porque me pareceu que foi bola na mão e não mão na bola.
b) não validei o golo, porque não tive a percepção de em algum momento a bola ter passado completamente a linha.
c) não expulsei o jogador porque não o vi a agredir o adversário…
- Melhores remunerações para os árbitros, para que sejam pessoas tranquilas em todos os aspectos e não sejam levados tão facilmente pela cobiça.

Disciplina:
Os cartões amarelos só contarem para a própria competição, para acabar com a chamada limpeza de cartões.

Taça de Portugal:
Sorteio totalmente livre e sem equipas a folgar, sendo que um só jogo decidiria tudo.
No caso das equipas serem de divisões diferentes, em caso de empate no final do prolongamento, a equipa da divisão menor passaria á próxima eliminatória. Caso as equipas sejam da mesma divisão haveria então desempate por penalties.
Apenas o jogo da final seria sempre decidido aos penalties, mesmo que as equipas fossem de divisões diferentes.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Taça da Liga: Sim ou Não? Porquê?

Foi finalmente apresentado o projecto para uma possível Taça da Liga, e sendo um projecto novo nada como saber o que pensam dele.

Há prós e contras, o nosso campeonato ficou reduzido a 16 clubes numa tentativa de aumentar a competitividade (e não de reduzir os jogos como muitos dizem), no entanto nota-se que começam a haver muitos espaços no calendário competitivo (com semanas sem jogar, equipas que ficam sem competir durante 2 ou 3 semanas), daí que a chegada de uma nova competição (que obviamente será sempre um parente pobre em relação ao campeonato) possa suprimir algumas lacunas como dar competição a jogadores menos utilizados e levar os clubes mais pequenos e médios a poderem lutar por uma Taça, vencer um troféu, algo que parece actualmente só ao alcance dos clubes de topo da liga.

A estrutura da Taça permitiria clubes de escalão secundário receber na 1ª eliminatória clubes do escalão principal, seguindo o principio da classificação na época anterior, ou seja, os 8 primeiros da Liga Portuguesa no fim desta época poderão ir jogar contra os 6 últimos da 2ª Liga mais os clubes promovidos, e do 9º ao 14º mais os 2 clubes promovidos na casa do 1º ao 8º da 2ª Liga, algo que faria sem dúvidas promover o futebol em campos que habitualmente não recebem clubes de topo, algo também que só podera ter sucesso se esta competição não for remetida para um dia semanal e uma hora tardia.

Na 2ª eliminatória teriamos um sorteio directo de vencedores do 1º lote contra o 2º, sendo que na 3ª eliminatória haveria sorteio puro entre as 8 equipas restantes mas jogando a 2 mãos, as 4 equipas que vençam esta eliminatória entraram numa mini liga jogando todas contra todas em campo neutro (podendo levar grandes jogos a localidades que não os tem), sendo que os 2 primeiros se apuram para uma final também em campo neutro (e temos estádios para isso não temos?).

Prémios? A Taça! Monetários não acredito! Taça Uefa como prémio na Inglaterra e França sim, aqui não sei!

Para nós adeptos do Sporting (tal como os outros clubes grandes), esta competição pode ser vista como um estorvo, algo que vai cansar jogadores, uma competição menor, mas peço-vos para pensarem com atenção em outros pormenores como o facto de servir para recuperar jogadores com pouco ritmo competitivo ou ser uma plataforma para apostar em mais jovens, bem como a possibilidade de em fases mais avançadas podermos assistir a mais derbies e clássicos.

terça-feira, novembro 28, 2006

segunda-feira, novembro 27, 2006

Futebol: Naval 0 x Sporting 1 - Ronny Torpedeiro

Vitória de elementar justiça face a uma Naval muito retraida e satisfeita com o empate verificado até ao missil teleguiado de Ronny. Que grande golo! Nem Roberto Carlos ultimamente tem acertado nas redes com este impacto. O Sporting entrou muito bem no jogo dispondo logo de uma ocasião soberana para Liedson inaugurar o marcador que o Levezinho (mais uma vez) não conseguiu concluir. Mas, continuámos bem, com o controlo total do jogo, e Liedson tem nova ocasião, esta ainda mais clara, de fazer o 1º da noite, e novamente esbanjou. Desta feita, de forma algo displicente, atirando por cima da trave de uma baliza deserta e com o GR adversário completamente batido, deitado por terra a meio da viagem. Incrivel! Quem foi acreditando com tudo isto foi a Naval, que terminou a 1ª parte a testar Ricardo de fora da área e que continou a criar mais dificuldades á nossa equipa no reatamento. Começávamos a dar sinais de alguma intranquilidade face ao desacerto da linha avançada, até que Paulo Bento decide mexer e bem na equipa. As entradas foram determinantes para uma alteração de ritmo e velocidade de jogo no nosso meio campo ofensivo e frente de ataque. Bueno e Romagnoli entraram bem no jogo, mas acabou por ser Ronny o mais decisivo, logo a última cartada inspirada do nosso Mr. de risco-ao-meio. O livre é indiscutivel (Taborda fazia melhor na flash-interview em destacar a potência do remate que foi incapaz de suster), e Ronny transforma com a potência e direcção de um verdadeiro especialista na matéria.
Destaques positivos:
- Ricardo: grande defesa no final da 1ª parte a remate de meia-distância - providencial;
- Tonel e Polga: juntos estão a tornar-se um caso sério para qualquer avançado adversário poder facturar ou sequer estar perto disso - segurissimos;
- Tello: defensivamente teve algumas dificuldades em tapar o seu flanco, diga-se em abono da verdade que por vezes fizou só a fazê-lo contra 2 adversários, mas ofensivamente esteve muito activo e disponivel, sendo fulcral o seu apoio e transporte de bola pelo corredor. Avançando no terreno, cumpriu muitisimo bem ajudando a emprestar mais velocidade como a equipa pedia - indispensável;
- Ronny: golaço! Decisivo.
Destaques negativos:
- Liedson: não pode continuar a esbanjar oportunidades como fez ontem sob pena de reduzir boas exibições da equipa a nulos que reflectem a sua triste ineficácia;
- Alecsandro: cansado do jogo de Milão em que actuou só na frente e foi sujeito a grande desgaste, mas será que justifica tudo?!
- Nani: para ser o fora-de-série que ele já julga que é tem que produzir muito mais. Timing de soltar a bola esteve melhor mas no capitulo de remate á baliza e sentido prático do seu futebol - inconsequente!

domingo, novembro 26, 2006

O que se passa com os avançados do Sporting?

Estes 3 da foto, todos juntos, não valem 1 cabelo do Liedson das épocas anteriores que... resolvia!
De facto, os últimos 2 jogos foram ganhos por 1-0 e na cobrança de livres directos pelos defesas esquerdos (Tello na Madeira e Ronny na Figueira da Foz).
Se a situação se mantiver é preocupante e assim não temos hipótese de vencer o campeonato.
Mas tenho esperança que já contra o SLB, Liedson volte a aparecer em grande!
Liedson está trapalhão e a falhar golos fáceis, embora o azar o persiga bastante.
Alecsandro ainda não mostrou ser uma mais valia em relação a Deivid!
Bueno ainda nem sequer marcou!

O Homem de Borracha!

Não sei como é possível o jovem génio leonino ainda não ter ido para o estaleiro!
Em todos os jogos sofre entradas violentíssimas de adversários; como hoje voltou a acontecer na Figueira da Foz.
Já para não falar na entrada verdadeiramente inqualificável, para CLARO VERMELHO DIRECTO de Stankovic em Milão.
Ainda não encostou, mas já se nota que anda muito "moído" nos últimos jogos, não conseguindo ter o peso na equipa que já teve esta época.
Atenção Srs. árbitros, não é possível pactuar com os Bárbaros que se fartam de dar pau ao miúdo.

sábado, novembro 25, 2006

Comunicado do FC Porto

No jogo da última jornada da Liga B-Win, um jogador dos quadros do Futebol Clube do Porto, cedido temporariamente à Associação Académica de Coimbra, sofreu uma entrada bárbara perpetrada por um Argentino. Depois do sucedido ao futebolista Anderson, as boas relações entre a Grécia e a Argentina (comprovadas pelo Ministério Dos Negócios Estrangeiros helénico através da sua página oficial) confirmam a teoria de quem vê estes casos como manobras planeadas. Hélder Barbosa é um jovem valor que o jogo deve proteger sendo que a falta sofrida é um atentado ao futebol espectáculo, uma coincidência lamentável que podia ter roubado ao desafio um dos seus maiores pólos de interesse. Um dos jogadores que mais podia desequilibrar foi vítima de um Argentino de uma equipa que, ao longo dos anos, provou não ser propriamente bem comportada mas que muito tem beneficiado da complacência das equipas de arbitragem.
Estas situações devem ser definitivamente banidas do futebol e, se continuarem a repetir-se sem a resposta célere e adequada dos órgãos competentes, o Futebol Clube do Porto passará a deixar de apostar em artistas emprestados para passar a apostar em atletas que aparecem misteriosamente lesionados antes do desafio contra o seu clube de origem.
S.A.D. Futebol Clube do Porto

terça-feira, novembro 21, 2006

Golpe de Estádio #09: Capítulo VI (Aventura no México)

O «Jumbo» da «Lufthansa» voava a uma velocidade de cruzeiro próxima dos 900km/h e tinha vento pela popa. Lá em baixo, a extensa pradaria do Texas anunciava já o final da viagem, algures no México, numa cidade chamada Saltillo, que seria onde a selecção iria estagiar durante três semanas para os jogos da fase final do Campeonato do Mundo.
Espreitando pela escotilha da cauda, enquanto mexia com os dedos os cubos de gelo do copo de whisky, Joaquim Oliveira sonhava com uma nova vida. Para trás queria que ficassem os meses de muito trabalho, convencendo os patrões do futebol de que seria lucrativo explorar a publicidade estática dos estádios. Tanto labutou que conseguiu convencer alguns, bem como os responsáveis pela selecção nacional.
Aliás, este até foi o seu trabalho mais fácil, pois na Federação mandavam todos e não mandava ninguém. O presidente (Silva Resende) até era uma figura com vocação eclesiástica.
No jacto, os jogadores partiam para mais uma rodada de «sueca» e o seleccionador(Torres) tentava dormir um pouco. Os jornalistas aproveitavam para pôr as leituras em dia, e meia dúzia de viajantes tentava perceber o que se passava, de facto, no interior do avião. Simplificando as coisas, era apenas mais uma equipa de futebol em viagem pelo mundo. Esta tinha a singularidade de ser a equipa portuguesa. Apenas mais uma equipa.
A chegada a Saltillo, após uma escala na capital mexicana, foi de arrepiar. Naquele mundo novo de comancheros, um exército esperava a equipa. Homens de metralhadora vigiavam o hotel da selecção, colocados em posições estratégicas, bem no centro de um inóspito planalto.
- Vai ser pior que Alcatraz!- vaticinou o «capitão» de equipa(Bento), que ainda estava longe de pensar o quanto estava iludido.
O hotel chamava-se «La Torre» e constava de uma grande torre onde se alojava a recepção e o restaurante, rodeada por duas filas de apartamentos ao estilo duplex, que foi onde ficaram os nossos jogadores e os jornalistas, cada grupo no seu bloco. O dono do hotel era um mexicano branco e gordo, que desde logo apresentou a sua ainda mais anafada esposa, ainda jovem, portanto, «com hipóteses de ser comestível lá para o fim da segunda semana», como logo alguém referiu.
Faltavam mais de três semanas para o início da competição. Havia que iniciar a adaptação à altitude das cidades onde os jogos iam decorrer. No fim da pradaria, junto à encosta de um monte, um complexo desportivo novinho em folha estava à disposição da equipa portuguesa. O relvado é que deixava um pouco a desejar. Enrolado num sarape, em pose para o único repórter-fotográfico da comitiva, o seleccionador mais parecia um guardador de rebanhos da pradaria do Norte do México, não fosse andar por ali um tal de Joaquim Oliveira a comandar um grupo de trabalhadores locais. De martelo em punho, ele dava o exemplo, pregando os primeiros painéis à volta do campo de treinos e berrando constantemente com os seus contratados, todos eles muito próximo da indigência.
- Foda-se para os Mexicanos. Parecem alentejanos!
Os dias passaram depressa, primeiro. Havia que mostrar trabalho, uma equipa de futebol só tem 11 lugares. Mas logo o tédio foi tomando de assalto os jogadores. E foi assim que estes se lembraram que continuavam por negociar os prémios de participação e as respectivas comparticipações nas receitas publicitárias angariadas. Como o presidente continuava em Lisboa, falaram com o vice e com o treinador. Mas a resposta tardou, os dias começaram a passar mais devagar e um dia a revolta aconteceu. Ou melhor, uma noite. Depois do jantar - mais uma vez servido pelo diligente Evaristo, cozinheiro famoso que tinha vindo de Portugal com a equipa -, os craques fecharam-se na sala do restaurante e decidiram... fazer greve. O 25 de Abril já tinha sido á 11 anos, o País vivia ainda os resquícios de PREC, mas, curiosamente, não aceitou muito bem a decisão dos jogadores, anunciada no dia seguinte, na penthouse do hotel, tendo como fundo a imensa paisagem da pradaria mexicana e a pequena cidade de Saltillo. Os telexes crepitaram, os telefones ficaram impedidos, mas a notícia chegou depressa à nação - os craques queriam dinheiro, caso contrário...
Joaquim Oliveira pensou que estava tudo perdido.
- Logo agora, que acabei que colocar o último painel! - desabafava para o seu irmão António, que também se tinha integrado na comitiva. Este, conhecedor de muitas marés e das manhas dos craques, desvalorizou a questão.
- Calma, Joaquim, isto ainda vai ao sítio - e dito isto reparou numa miúda que saía de um jeep.
- Esta, garanto-vos que nem vai entrar aqui! - disse para um jornalista. Dito e feito.
António trocou duas palavras com a miúda à entrada do hotel e seguiu com ela para o quarto.
- Este é craque em tudo - comentou o «mascote» da selecção, um velhinho fotógrafo de Albergaria que todos tratavam por «Admirável». Aliás, «Admirável» viria a revelar-se como uma peça fundamental nas negociações dos jogadores com os responsáveis da selecção, montando também guarda quando os craques se fechavam nos seus muitos plenários.
Estava Portugal inteiro suspenso do desfecho desta novela quando o presidente da Federação finalmente chegou. Mas a primeira coisas que fez foi ir à missa, o que deixou alguns jogadores desconfiados, pois pensaram que estava tudo descoberto e que o homem fora pedir perdão pelos muitos pecados cometidos no hotel «La Torre» desde que ali tinham chegado os portugueses. É que aquela história da segurança era tudo balela. Os próprios seguranças eram os primeiros a promover uma certa libertinagem, oferecendo todo o tipo de chicas pela módica quantia de dez dólares. Mas não eram muito bons a organizar, pois não raras vezes as chicas iam bater à porta dos jornalistas, e deles chegaram a aproveitar as ofertas...
No Hotel «La Torre», como se comentava mais tarde, «até as carochinhas e os esquilos marchavam». Após duas semanas de estágio, o pessoal feminino da limpeza já conhecia, por exemplo, todas as pregas da barriga do Evaristo, que um dia de tão entusiasmado, até se esqueceu de queimar o leite creme, o que ia originando outra revolta. As miúdas apareciam de todos os lados e convites não faltavam. Por exemplo, numa das noites de folga, alguns dos craques puderam mesmo viajar alguns quilómetros até a um rancho, onde se realizou um barbecue que ficou conhecido apenas pela antepenúltima e penúltima letras.
Joaquim Oliveira não via a hora de tudo aquilo se resolver, mas o seu desespero ainda estava longe de ter atingido o clímax. Que aconteceu depois da célebre noite em que o presidente da Federação brindou um grupo de jornalistas portugueses e brasileiros com uma sessão de anedotas picantes. Curiosamente, no dia seguinte estava praticamente tudo resolvido e para quase todos, menos para Joaquim Oliveira. Nessa noite, um pé-devento passou pelo campo de treinos e varreu os painéis publicitários ali colocados com tanto suor e empenho.
- Que mais me irá acontecer? - chorava Joaquim Oliveira, longe de imaginar que aquela tempestade era o início de uma carreira fulminante de empresário desportivo.
Depois da tempestade, veio a bonança. também podia ter vindo o Bonanza, que a paisagem era a ideal e não faltavam ali pistoleiros. Os jogadores acalmaram-se com a proximidade da competição, e um jornalista do «Libération», de rabinho de cavalo e caneta em punho, ficou profundamente desolado quando encontrou a equipa portuguesa a trabalhar no duro, embora sem resistir a umas tantas, e inevitáveis, escapadelas nocturnas. O defesa esquerdo, entretanto, apaixonou-se pela mulher do dono do hotel, sendo visto a namorar num banco de jardim ao lado da piscina. Entre os jornalistas, a rebaldaria era também geral, com uns a tomarem o partido dos dirigentes e outros o partido dos jogadores. Até se dizia que tinha sido um jornalista o redactor dos comunicados dos jogadores, para uns claramente decalcados das folhas de combate do PCP.

Esta controvérsia iria gerar, mais tarde, alguns desaguisados.
E o Joaquim? A vida melhorava para o Joaquim.
Acalmados os ventos e caladas as iras, finalmente a sua publicidade era vista em Portugal.
O Joaquim podia, enfim, ir à discoteca do outro lado da rua. Talvez o seu irmão lhe apresentasse uma miúda.
Miúdas...
Para um jogador muito especial, elas eram quase tudo. Futre, vedeta em ascensão, gostava muito delas mas também queria um lugar na equipa, fazendo tudo para o conseguir, ao ponto de em plena recepção do hotel levar o seleccionador ao desespero.
- Tenho de jogar, e ponto final - dizia do alto dos seus 19 anos. Como se não obtivesse certeza do facto, dedicava-se a outras actividades, ficando célebre uma longa espera da equipa.
- Onde andará o Futre? - perguntavam, até que alguém topou a sua cabeleira. Nas traseiras de uma pick-up de portas abertas, Futre era surpreendido na fase terminal da jogada ofensiva a que todos chamavam «chupa-chupa». A miúda não gostou muito da interrupção, e o Futre voltou a amuar.
- Ou isto, ou a titularidade! - ameaçou, mas já ninguém se importou com isso, especialmente depois de ter sido confirmada a notícia de que um português ali residente tinha sido apanhado a dormir com dois cameramen brasileiros...
Chegou o dia «D». Do outro lado, os ingleses eram claramente os favoritos. Do nosso lado, já ninguém sabia o que estava a valer, pois o melhor que se tinha arranjado como aferidor da forma da selecção tinha sido uma equipa de cozinheiros e estucadores. Girou a bola e a equipa portuguesa conseguiu marcar um golo, que foi quanto bastou para a vitória. Foi a festa. Embora ainda faltassem dois jogos para o fim do apuramento, a euforia instalou-se no Hotel La Torre e no dia seguinte houve festa. Na penthouse do hotel, os movimentos revolucionários eram trocados por outro tipo de manobras ofensivas, mas estas tendo como alvo jovens entre os 16 e os 25 anos. O sobe-e-desce durou quase toda a noite, ante o olhar benevolente do seleccionador e de uns tantos jornalistas que o acompanhavam nos copos.
O clima era de completa descontracção depois de uma série de dias de tensão. A vitória sobre a Inglaterra fez esquecer tudo o que estava para trás. Mas a seguir a esta vitória veio uma derrota, com a Polónia, e tudo voltou à estaca zero. Tudo se ia decidir noutra cidade, frente a uma selecção marroquina comandada por um brasileiro, que até mandou o recado de que se Portugal quisesse empatar o jogo, era capaz de se arranjar, pois o resultado também interessava à selecção que comandava. Passado o recado, um responsável da selecção reagiu com um arrogante «nem pensar, vamos é golear os gajos».
No bar do hotel, pela noite dentro, o seleccionador falava assim com o seu adjunto:
- Estou com fé...
- Na Nossa Senhora de Fátima?
- Não, pá, nos rapazes. Eles não podem perder, caso contrário são chacinados no regresso.
- Olha que não sei. No fundo, já fizeram bastante. Chegaram aqui, ganharam aos ingleses...
- ...comeram gajas em série...
- E nós?...
- Parvos fomos, pá!
No louco hotel de Guadalajara, os jogadores já se roíam de saudades das miúdas que tinham conhecido em Saltillo. Crê-se mesmo que essa seria a sua maior motivação para vencerem Marrocos, pois se tal acontecesse voltariam a jogar nas imediações de Saltillo.
Mas Portugal perdeu e por muitos. Oh desgraça!...

Joaquim Oliveira voltou a amuar, o irmão nem por isso (já estava cansado de «trabalhar as miúdas»), e até o embaixador acabou molhado da cabeça aos pés quando entrou no balneário da equipa portuguesa. Um dos craques, que tinha partido a perna depois do primeiro jogo (Bento), chorava a um canto, e o presidente mantinha-se na tribuna de honra, reunindo desde logo um grupo à volta e iniciando um discurso do tipo «eu bem dizia que estes excessos revolucionários...», o que desde logo mereceu parangonas na imprensa portuguesa do dia seguinte. Os heróis voltavam à sua condição de homens, melhor, de vermes.
Por isso, o regresso a Portugal fez-se praticamente em silêncio. E as miúdas de Saltillo, inconsoláveis, fizeram rezar missas pelo menos por o envio de uma carta. Um dos jogadores disse mesmo: «Selecção, nunca mais, com esta gente». António Oliveira apreciou a atitude, recordando os tempos em que se manteve coerentemente dissidente.
Ver-se-ia mais tarde que o jogador que António admirou também iria cumprir a sua promessa.
Onze anos depois, o Hotel La Torre continua no mesmo sítio. Um pouco mais degradado, é verdade, com menos água na piscina, mas a paisagem continua a ser a mesma. Só a mulher do Senhor La Torre já lá não mora, pois fugiu para Tijuana com um jogador de póquer.

terça-feira, novembro 14, 2006

Golpe de Estádio #08: Capítulo V (A Galinha dos Ovos de Ouro)

O clube de Pinto da Costa tinha atingido o auge tanto em termos nacionais como europeus. Era o apogeu, o delírio e o júbilo de um povo que nunca se tinha visto em tamanha aventura. PC fez esquecer o seu velho e grande amigo Pedroto, evitando qualquer comentário que pudesse recordar o velho mestre. A glória tinha de ser só sua e de mais ninguém. A cidade caiu-lhe aos pés, e foi a partir dessa altura que PC tomou consciência do poder que tinha e que Reinaldo Teles começou a alimentar a sua grande esperança de um dia vir a ser alguém no seu clube.
Reinaldo tinha Pinto da Costa quase na mão, através dos assíduos encontros deste último com as suas miúdas. As amantes sucediam-se e até entravam em lista de espera.
PC sentia-se um Dom-Juan e conhecia uma vida totalmente diferente daquela a que sempre foi habituado. O poder alimentou ainda mais a sua ambição e começaram aí as traições aos seus melhores amigos.
Umas como pura defesa pessoal, outras para abrir caminhos para os que iam chegando e prometiam uma maior subserviência, o que lhe dava a garantia de poder governar sozinho e principalmente sem ter de dar muitas explicações.

Os títulos traziam muito dinheiro para os cofres do clube Pinto da Costa já tinha esquecido os momentos em que era apenas um vendedor de fogões, muito embora continuasse ligado à mesma firma, onde mantinha uma posição superior. Os milhares com que tinha de lidar começaram a toldar-lhe a mente e a aumentar a sua ambição.
O seu clube era um grande chamariz para os grandes negócios e não faltaram oportunistas para tirar partido disso. Foi nessa altura que surgiu um empresário italiano muito ligado à venda de jogadores, mas com negócios ilícitos à mistura. Luciano D´Onofrio já tinha jogado futebol em Portugal, e acabou por criar raízes no nosso país, mais propriamente a sul, aproveitando uma grande parte do seu tempo para entrar nas redes ligadas ao tráfico de droga... e era mesmo vital aquele ponto geográfico para o negócio!
Luciano D´Onofrio, um indivíduo baixo, magro e com cara de rato, de nariz afilado mais parecendo um bico, apareceu pela mão de Reinaldo Teles e recebeu a benção de PC.
D´Onofrio era um empresário sem escrúpulos e com alguns mandatos de captura em diversos países europeus, precisamente por tráfico de droga, mas foi acolhido como uma pessoa de grande interesse para o clube. Pinto da Costa foi quem mais lucrou com a sua vinda. Os jogadores do seu clube inflacionaram-se no mercado europeu, e D´Onofrio viu ali um grande negócio para si e para PC. Em todos os jogadores que fossem negociados para o clube ou que saíssem dele, o presidente teria sempre a sua percentagem, desde que mais ninguém interferisse no negócio. Após o recebimento das primeiras comissões Pinto da Costa via-se rodeado por dois elementos ligados ao mundo do crime. Não era segredo para ninguém que Luciano D´Onofrio tinha ligações com a Mafia italiana e que Reinaldo mais alguns familiares viveram sempre de habilidades e negócios marginais, negócios centralizados na prostituição e na receptação de objectos roubados. «Pena é que estes ramos não estejam inscritos nos fundos comunitários», costumava dizer Reinaldo, que um dia ficou deliciado quando em Amesterdão viu umas garinas expostas em montras. Por um só momento, Reinaldo viu a rua de Santa Catarina transformada um gigantesco bordel, imaginando situações do tipo «leve três e pague duas» ou «pague o seu bacanal em dez suaves prestações». Mas era sonhar muito alto.
Foi este tipo de gente que fez engolir em seco muitas pessoas honestas e com dignidade que estavam ligadas ao clube. Alguns protestaram, defenderam a ideia de que o clube tinha de ser gerido com mais transparência e acabaram por ser afastados. Como aconteceu com Alberto Magalhães, reputadíssimo empresário.
PC, cada vez mais lá no alto, qual Deus do Olimpo, qual César à frente das legiões, não dava tréguas:
- Aqui quem manda sou eu, e quem não estiver bem que se afaste!
O clube vivia momentos conturbados em termos directivos, mas os resultados desportivos eram óptimos. Consequentemente, Reinaldo Teles ia subindo na hierarquia do clube. Já tinha subido de chefe de segurança a chefe de departamento de futebol, uma ascensão que deixou muita gente de boca aberta, mas que foi aceite sem grande contestação, pois nessa altura já Reinaldo tinha todo o seu staff de segurança organizado. Reuniu alguns dos maiores rufias da cidade, alguns dos seus conhecidos dos negócios marginais e de prostituição, e impôs um cordão de silêncio tanto a jornalistas como a dirigentes. Quem contestasse ou denunciasse algo que não convinha, recebia a visita de um desses marginais e ficava sem vontade de dizer mais nada, subordinando-se ao silêncio e à aceitação dos factos. Nem os sócios conseguiam fugir a esta perseguição.
Mas quando as derrotas surgem ou os resultados demoram a aparecer e as exibições não são as melhores, há sempre associados que contestam. No final de um jogo em que o clube tinha perdido, um associado, passando ao lado dos balneários, não se coibiu de lançar alguns insultos ao presidente e seus pares.
- Filhos da puta, chulos, vão trabalhar!
Pinto da Costa, que estava de sobretudo e mãos nos bolsos, tendo a seu lado Reinaldo Teles e mais dois dirigentes de menor importância, todos rodeados por quatro capangas, deu de imediato uma ordem em surdina:
- Fodam-me esse gajo!

Os quatro capangas deram meia volta, seguiram o indivíduo até às imediações do estádio e deram-lhe uma sova, perante o olhar incrédulo das outras pessoas que não sabiam muito bem o que se estava a passar. Era a lei da força e do silêncio.
O esquema estava montado, e dirigente que ousasse abandonar o clube e falar do que ouviu ou viu, sabia bem o que lhe poderia acontecer.
O grupo de seguranças foi-se refinando alicerçado pela parcialidade e impunidade com que os próprios jagunços era tratados e alongou-se até alguns agentes de autoridade que não se importavam de ostentar as suas armas como forma de intimidação. Foi sobre esta onde de poder e segurança que Pinto da Costa construiu o seu império e imperializou a sua própria imagem. Ele sentia-se um Al Capone à portuguesa, com a vantagem de não poder ser apanhado pelo fisco, pois não tinha rendimentos legais que justificassem qualquer tributação. Tinha, isso sim, o poder nas mãos e ficou ainda mais seguro disso a partir do dia em que se aliou a um bruxo muito conceituado em terras brasileiras que dava pelo nome de Pai João (Delane Vieira), um bruxo que não se limitava aos orixás, fornecendo também a equipa de futebol com frasquinhos de vidro que continham um guaraná em pó muito especial, esmagado por uma tribo de índios do interior do Brasil. O speed, normalmente recomendado para os gulosos do sexo, ajudava os craques e, aliado à normal injecção de «vitaminas», tornava-os super-homens dentro do campo. E era certo que a aparelhagem do anti-doping estava completamente desajustada para detectar o que quer que fosse. Mas até este sector, a seu tempo, foi devidamente controlado.
Entretanto, Reinaldo Teles não cessava a sua actividade, continuando a arranjar as melhores amantes para Pinto da Costa e a dar-lhe toda a protecção. Rodeado de poder, mas ainda sem dinheiro, o presidente, como lhe chamava Reinaldo, tinha algumas limitações, mas nunca esqueceu o velho amigo Ilídio Pinto, a quem continuava a extorquir o dinheiro que queria para efectuar alguns negócios, sempre com a promessa de que um dia este viria a ser vice do futebol profissional.
- É uma questão de tempo. Você tem de ter paciência. Necessito de si em lugares mais importantes para a vida do clube. Um dia o futebol será seu.

Com estas palavras de Pinto da Costa, o Ilídio lá ia passando uns cheques e cobrindo algumas despesas, porque fortuna pessoal foi coisa que nunca se conheceu ao presidente.
O grande negócio acabaria por surgir.

Um clube espanhol (Atlético de Madrid) interessou-se pela aquisição de Futre, e o seu presidente resolveu vir a Portugal contactar o jogador, sem antes consultar o clube de Pinto da Costa. Mas a organização, constituída por mais de uma dezena de guardacostas, estava sempre bem informado de tudo quanto se passava na cidade e essencialmente dos assuntos que diziam respeito ao clube. Por isso, quando chegou a boa nova de que o presidente do clube espanhol estava em Portugal para falar com Futre, foi de imediato colocado um plano de ataque em marcha, cujo nome de código era «A Caça à Peseta».
Apesar de Gil y Gil estar, no seu país, bem à altura de Pinto da Costa, quando veio a Portugal estava muito longe de saber o que lhe ia acontecer. Chegou ao Porto e combinou encontro com um empresário, para avaliar a possibilidade de levar Futre para Espanha. O bar era pequeno e decorado de uma forma simples. No fundo da sala, um pouco na penumbra, estava sentado Gil y Gil à espera do tal empresário quando irromperam pela sala dentro quatro indivíduos que, sem darem cavaco a ninguém, o rodearam e apertaram contra a parede, lançando o aviso:
- Se voltas aqui sem primeiro falares com o presidente do nosso clube, podes ter a certeza que não sais daqui vivo. Na próxima, não há aviso! - rugiu Reinaldo, decalcando o final da sua declaração de um filme que tinha visto em Pinheiro da Cruz.

Estas palavras foram ditas com tanta certeza e segurança que Gil y Gil quase se mijou pelas pernas abaixo. Fora a sua primeira lição como futuro presidente de um dos melhores clubes espanhóis. «Coño, em Portugal não se brinca», suspirou, ainda com as pernas a tremer como varinhas verdes.
Gil y Gil não disse palavra, limitando-se a sair do bar e a enfiar-se na sua viatura, acelerando, sem olhar para trás, até Espanha. Gil até se esqueceu de comprar um queijo da serra em Vilar Formoso, como prometera a Carmen, a sua amante de Madrid/Sul.
Já no seu território, contactou directamente com Pinto da Costa, e este, sem muitas palavras, indicou-lhe um interlocutor: Luciano D´Onofrio.
- O seu braço direito? - quis saber Gil.
- Mais ou menos, pois será ele a conduzir o assunto - informou PC.
Gil y Gil ficou tão impressionado com a acção de Pinto da Costa que resolveu oferecer um extra ao seu congénere português: uma vivenda em Madrid.
- Sim senhor, mas numa zona fina, se faz favor - aceitou PC de pronto.
D´Onofrio entretanto colocou outro jogador (Rui Barros)de PC num clube italiano (Juventus) e a soma da venda de Futre e desse jogador vendido para Itália foi de 1 milhão e 200 mil contos, uma verba que PC nunca teria imaginado poder passar pelas suas mãos. De imediato, PC juntou todo aquele dinheiro e abriu uma conta particular, prometendo aos seus parceiros de direcção que aquela verba iria servir exclusivamente para a compra de jogadores para o clube. Todos acreditaram, mas esse dinheiro desapareceu como o fumo. Para amostra não ficou nem sequer um mísero escudo.
As ligações de Pinto da Costa com situações marginais começaram a ser comentadas, e isso criou um certo descontentamento entre alguns directores, nomeadamente no patrão da sua empresa, Alfredo Costa, e presidente do Conselho Fiscal do clube.

Ninguém como Alfredo Costa conhecia a vida de Pinto da Costa e, por isso, sabia muito bem que este andava a vivera além das suas reais possibilidades, entrando em outros negócios e noutras sociedades, sem se lhe conhecer a proveniência do dinheiro. Desconfiado desta situação, como presidente do Conselho Fiscal do Clube, Alfredo Costa um dia interpelou Pinto da Costa sobre o milhão e duzentos mil contos da venda dos dois jogadores, mas como resposta obteve apenas:
- Não tenho de dar contas a ninguém.

Alfredo Costa estava de pé frente à secretária de Pinto da Costa e quase não acreditou no que estava a ouvir. Aquela era a confirmação de que o dinheiro tinha mesmo desaparecido e não pactuou mais com a situação, demitindo-se do seu lugar de presidente do Conselho Fiscal do clube, ao mesmo tempo que intimava Pinto da Costa a abandonar a sua empresa.
Alfredo Costa não teve contemplações:
- Recuso-se a trabalhar com gente desonesta. Na minha empresa não posso ter indivíduos do seu quilate.

Pinto da Costa estava na mó de cima e não ficou muito preocupado com a situação.
Uma grande parte daquele milhão tinha sido investido em várias empresas com ligações a familiares seus, mas sem o mínimo de capacidade de gestão, e todas acabaram por falir. O dinheiro fácil nunca é bem gerido, e o clube já estava a pagar as aventuras do seu presidente.
Mas os fiéis associados pouco se importavam com essas contas. Eles não queriam saber de gestão, mas de golos, e esses não faltavam. Pinto da Costa e Reinaldo Teles também sabiam disso e tinham de se organizar no sentido de garantir que esses golos e essas vitórias nunca haveriam de faltar.
Para deixar a empresa onde trabalhava, Pinto da Costa ainda teve que pagar sete mil contos e ficou sem carro por uns tempos. O milhão e tal de contos tinha desaparecido sem deixar rastos e tinha deixado de...rastos PC, a contas com a justiça, por cheques sem cobertura e penhoras a bens pessoais. Foi um momento difícil, mas que não abateu o presidente, levando-o antes a pensar que o seu negócio era o futebol. Era nessa área que se movia como peixe na água, e a modalidade não estava a ser devidamente explorada. Todos os movimentos foram reprogramados, de forma a que o clube tivesse uma gestão capaz de alimentar o seu presidente.
Reinaldo Teles acabou por subir na escala do poder no clube. O vice para o futebol foi afastado, e Reinaldo chegou-se mais ao presidente, ocupando o lugar deixado vago.
A vaidade pessoal de Reinaldo levou-o a abrir mais uma casa de alternos, desta vez mais chique e refinada. As putas eram de melhor qualidade e o champanhe também.

Pinto da Costa não perdia um strip-tease, e quando lhe agradava, saboreava ao vivo a estrela do espectáculo. PC sentia-se cada vez mais um Al Capone à portuguesa.
Sempre rodeado de guarda-costas, assumia a pose do gangster e já tratava as raparigas da forma que um dia vira num filme americano, nos seus tempos de liceu.

Tinham surgido alguns escândalos e alimentava-se a desconfiança em relação à forma como os dinheiros estavam a ser geridos e distribuídos, mas aos poucos a organização refinou-se, de forma a não deixar rastos. Luciano D´Onofrio era um gangsterzinho e foi-se apercebendo da forma pouco cuidada e pouco profissional como os assuntos eram tratados e em alguns negócios governou-se com mais dinheiro do que aquele que ficara combinado, e para anular essas fugas, Pinto da Costa resolveu montar uma sociedade secreta na Suíça para que existisse um maior secretismo. D´Onofrio era uma figura envolta em algum mistério. Tanto aparecia como, quase por artes mágicas, desaparecia, o que acontecia normalmente quando se adivinhavam maus momentos. Estas artes de prestidigitador livram-no de muitos sarilhos, embora alguns anos mais tarde Luciano não tivesse conseguido evitar alguns dias de detenção num calabouço suíço, por suposta ligação a um caso futebolístico que abalou o futebol Francês (Marselha).
PC confiava cegamente no seu amigo Luciano.
- D´Onofrio, vamos legalizar a nossa situação montando uma empresa de compra e venda de jogadores. No meu clube só você vende e compra todos os atletas, mas podemos estender o nosso negócio até outros clubes desde que se mantenha segredo absoluto.
- Está bem , presidente, você é que manda. Um dia ainda há-se ser como o Berlusconi.
Pinto da Costa não perdeu tempo.
- Vamos já formar essa sociedade, porque tenho um negócio para ser feito já.
Na semana seguinte já estavam os dois na Suíça para legalizarem a empresa de compra e venda de jogadores.

O seu primeiro negócio foi com um clube Francês (Matra Racing de Paris) cujo treinador (Artur Jorge) já tinha passado pelo clube de PC.
- Temos de realizar dinheiro, porque as coisas não estão muito boas. As empresas que tenho montado têm dado uma grande barraca e levam-me o dinheiro todo. Temos o Plácido para vender a um clube francês.
Luciano D´Onofrio arregalou os olhos e disse com espanto:
- Mas, presidente, esse jogador não tem cotação europeia.
- Não se preocupe com isso, porque quem lá está vai querê-lo.
D´Onofrio, ainda sem acreditar no que ouvia, apesar de toda a sua experiência no mundo das vigarices, perguntou:
- Como vai ser feito o negócio?
- O nosso clube vende o Plácido à nosso empresa por 60 mil contos e nós vendemo-lo ao clube francês por 160 mil contos.
- Desses negócios é que eu gosto. Ganhamos mais que o clube.
- Tenho que dar uma volta à minha vida e começar a ganhar dinheiro, porque o que já perdi não foi pouco. No futebol é que está o nosso grande negócio.
Luciano D´Onofrio arregalou os olhos e pensou de imediato em ir um pouco mais adiante, mas resolveu não falar disso com o presidente. Preferia colocar o problema a Reinaldo Teles, que era um elemento mais acessível para as situações de ilegalidade.
Logo que pôde, encontrou-se com Reinaldo Teles e convenceu-o a falar com o presidente.
- Reinaldo, temos um negócio que dá dinheiro que se farta, mas tens de ser tu a falar disso ao presidente.
Reinaldo olhou-o pensativo, mas lá acabou por se decidir.
- Não venhas com tangas p´ra mim. Diz lá que o que queres que proponha ao presidente.
- Tenho feito aí uns negócios com cocaína e nem imaginas o lucro que isso dá.
- Estás maluco. Pensas que o presidente vai numa coisa dessas?
- As coisas estão más e é necessário realizar dinheiro. Com a protecção que o futebol dá, podemos trabalhar à vontade.

Reinaldo Teles convenceu-se de que, de facto, havia alguma razão nas palavras de Luciano D´Onofrio e comprometeu-se a falar com o presidente sobre o assunto.
Pinto da Costa ouviu atentamente Reinaldo e mandou-o avançar com a ideia, mas ele queria ficar de fora.
- Resolvam lá isso vocês os dois, mas deixem-me de fora para poder controlar melhor a situação.

Reinaldo Teles não era burro e ficou desconfiado. Naquele momento não disse nada mas, passados dias, voltou a falar do assuntos.
- O melhor é ficarmos os dois de fora, e eu arranjo alguém para tratar do assunto directamente com D´Onofrio.
De início, o negócio correu bastante bem, mas passados alguns meses, a polícia começou a ameaçar com algumas buscas, tendo inclusive ido esperar o autocarro do clube à portagem dos Carvalhos para o revistar de alto a baixo. Mas nunca encontrou nada, porque a rede estava bem montada e não faltavam informadores. No entanto, Pinto da Costa sentiu o perigo que essa situação podia estar a criar e, como tinha consciência de que inimigos era coisa que não lhe faltava, depois das primeiras prisões de pessoas ligadas ao grupo que actuava em paralelo com D´Onofrio, deu ordem para se terminar com o negócio da cocaína que começava a ser vendida um pouco descaradamente pelos jogadores de futebol.
Pinto da Costa não perdia tempo. Não dormia só para pensar. A «coca» garantia muitas horas de espertina, no fim de contas.

terça-feira, novembro 07, 2006

Futebol: Sporting 3 x Sp. Braga 0 - Sorte regressou toda de uma vez

Jogo incaracteristico para não dizer mesmo, mau e desinteressante. Se o Braga esteve mesmo muito mal, a verdade é que o Sporting não se exibiu de forma a justificar, nem de longe, nem de perto, este resultado expressivo no limite da goleada. Aliás, o jogo foi tão esquisito, que para além de 2 autogolos bracarenses, ainda tive oportunidade de presenciar uma mão na bola de Nem, a que o árbitro julgou ridiculamente como lance para amarelo, felizmente era o segundo e o jogador foi expulso, que de tão ridicula e imbecil, só me apeteceu parar por ali o acompanhamento a este jogo. Depois do desaire em Aveiro (sim, desaire!) mas em grande jogo de futebol, foi-nos apresentado um péssimo meio de divulgação do mesmo com o jogo de ontem. Já agora deixo a dúvida que me assaltou ao ver o Braga a jogar ontem: será que aquilo foi planeado e pensado pelo treinador, que aliás tenho em consideração? Jogavam a 2 velocidades lento e parado, circulavam a bola com uma aparente tranquilidade mas total ineficácia ou contudência, defesa perdida, meio-campo não acertou uma jogada, avançados fora do jogo... É isto a suposta equipa que se pretende incomode os grandes na nossa Liga?!
Quanto a destaques individuais da nossa equipa:
- Moutinho: para variar, em grande estilo;
- Custódio: claramente em subida de forma que se saúda, sozinho limpou toda a nossa intermediária defensiva e sobrou;
- Tello: segurou, e de que maneira, esta posição na equipa titular;
- Tonel: lá ía sendo mais um golito na sequência de canto, mas mais uma vez os ferros a fazerem das suas, não me estou a queixar de falta de sorte no jogo de ontem ;)
- Alecsandro: mais perigoso e decidido que Liedson actualmente, faz-me acreditar que poderá fazer miséria na defesa italiana em Milão.

Golpe de Estádio #07: Capítulo IV (Finalmente, o Poder)

Aproximavam-se novas eleições e Pinto da Costa ia ganhando terreno. O treinador Austríaco (Hermann Stessl) que fora convidado para tomar conta do seu clube sob a gerência de Américo de Sá não estava a dar conta do recado. Os sócios habituaram-se aos títulos e queriam mais, mas a bola teimava em não entrar na baliza.
Enquanto isso, PC esfregava as mãos e preparava a sua candidatura. Os apoios eram cada vez mais fortes, e uma nova estratégia foi colocada em movimento. Ele tinha de apostar forte na vitória eleitoral e, aproveitando os maus resultados da equipa, organizou por todas as freguesias da cidade sessões de esclarecimento com uma programação meticulosa. Iniciava-se, assim, a «Operação Ácido Sulfúrico», cuja alternativa, em caso de falhanço, tinha o nome de código de «Operação Cicuta».
Na organização dos seus comícios, PC deu sempre preferência aos bairros pobres e à parte velha da cidade. Era aí que estava o povo e a força do clube. PC organizou o seu staff comandando um grupo de associados aos quais impôs serem eles a obrigarem-no a partir para uma candidatura. Desenvolveu-se então o célebre grupo dos 500, do qual saíram elementos devidamente comandados que se distribuíam pelos cantos das salas onde eram organizadas as tais sessões de esclarecimento. A missão deles era empolgar as sessões e fazer perguntas previamente combinadas com Pinto da Costa.
Numa dessas noites, na Associação Recreativa de Miragaia, foi assim:
- Presidente, qual é o principal inimigo do clube?
- Antes de mais, repito, ainda não presidente...
Gargalhada geral, e PC tomou as rédeas à sala, não evitando porém a queda de estuque sobre o novo casaco.
- O principal inimigo está dentro do clube, o servilismo a Lisboa. Estamos fartos de ser espoliados. Chegou a hora de dizer «basta».
Com uma cajadada, PC matava dois coelhos. Para além do mais, o discurso saía-lhe cada vez mais com mais facilidade e tudo era acompanhado, comentado e analisado pelo imprensa desportiva e jornais diários. A cidade e Américo de Sá viviam sob o fogo cerrado de Pinto da Costa. O presidente já não podia sair á rua sozinho, e as assembleias gerais eram cada vez mais escaldantes, levando mesmo o doutor Sá ao desespero e a chorar em público. Foi nessa altura que Reinaldo Teles teve o seu papel mais importante. Organizou um grupo de guarda-costas recrutados nos quadros da secção de boxe do clube que, com alguns rufias nocturnos á mistura, organizou alguns ataques a jornalistas que de uma forma ou outra denunciavam a protecção a Pinto da Costa. Evidenciando alguma inteligência e revelando o seu carácter de hipócrita, Reinaldo Teles verificou que a derrota de Américo de Sá era mais que evidente, e assim se foi distanciando da protecção que prometera ao seu presidente. Algumas figuras notáveis da cidade aliaram-se a Pinto da Costa e, no momento das eleições, a derrota foi fatal para Américo de Sá.
Pinto da Costa tinha conseguido realizar o seu sonho, levando como trunfo o seu grande amigo e companheiro de luta Pedroto, o técnico que tinha conseguido o título para o seu clube.
Fernando Gomes, o ponta de lança mais cobiçado, tinha sido emprestado a um clube Espanhol e serviu de bandeira para ajudar á vitória. Também ele regressou. Mas António Oliveira, o ex-capitão que nunca se deixou dominar pelos desígnios de Américo de Sá, recusando-se terminantemente a regressar ao clube, passou por momentos bem difíceis.

Não de ordem económica, mas psicológica. Tinham-lhe sido vedadas todas as entradas numa equipa que estivesse ao seu nível. Foi marginalizado e refugiou-se num grupo de amigos, não recebendo a ajuda de ninguém, mesmo de Pinto da Costa, pelo qual deu a cara. António Oliveira era uma vedeta do nosso futebol, uma estrela, um génio, e não podias ser esquecido. Foram meses de desespero. Foi sair da ribalta para o anonimato, mas nada vergou a personalidade deste jogador, Ficou sozinho, mas manteve a classe que sempre foi a sua imagem de marca.
Sem clube e sem a mínima vontade de treinar, refugiou-se no ambiente nocturno tão ao seu gosto. Copos e mulheres eram a alma que mantinha de pé a forte estrutura psíquica do «Caddilaque» - apelido que carinhosamente lhe fora colocado pelos amigos mais chegados. Eram bacanais atrás de bacanais devidamente organizados no seu apartamento. Por aquele espaço passaram os melhores ballets de inglesas que actuavam nos casinos nortenhos, as melhores strip-teasers, as habituais frequentadoras das discotecas e também travestis que satisfaziam as delícias de algumas convidadas lésbicas e bissexuais. Sexo em grupo era o prato forte.
Após alguns meses de paragem, António Oliveira resolveu voltar à actividade, mas antes, na companhia de alguns amigos foi passar uns dias a Bordéus, onde esteve a ajudar na vindima. E só no seu regresso, com um visual totalmente novo, de cabelo encaracolado e sem bigode, aceitou um convite do clube da sua terra natal (Penafiel).
Tinha uma equipa modesta, mas como era treinador-jogador, abria uma actividade totalmente nova no nosso futebol, revolucionando o sistema e isso teria sempre um enorme impacto mediático. Era a demonstração cabal de que António era, de facto um homem inteligente, que sabia estar e conhecia o terreno que pisava. A sua estrela voltava a brilhar e de tal forma que logo foi cobiçado por um grande clube da capital.
António não sabia viver sem a companhia do seu irmão, o Joaquim Oliveira. Foram sempre muito chegados. O Joaquim Oliveira tinha uma discoteca de alternos e rivalizava com Reinaldo Teles. O seu mundo eram as putas, tal como Reinaldo, de quem diferia muito em termos de personalidade e carácter. Reinaldo era um valentão. Joaquim Oliveira era pacífico e não era chulo, muito pelo contrário: chamavam-lhe andor porque gostava de se rodear de putas e pagar tudo. Todas as noites promovia ceias com dançarinas e também com algumas miúdas ligadas aos alternos. Levava sempre consigo amigos para se querer impor e provar que também era alguém. O negócio não dava para tudo, e vieram as dificuldades. As dívidas aumentaram e, com a ida do seu irmão para um clube da capital (Sporting) tudo piorava. Vieram as penhoras. E logo que António Oliveira se impôs no seu novo clube, tratou de arranjar um negócio para o seu irmão, uma queijaria nas imediações do estádio, onde era normal alguns jornalistas abastecerem-se sem pagar ou apenas por um preço simbólico (mantinha-se assim a tradição de «pato»). O irmão, pelo seu lado tinha-se assumido novamente como jogador treinador e, com a ajuda do seu novo presidente, resolveu abrir uma agência de contratações de jogadores. A sua missão era contratar jogadores não só para o clube do seu primo, mas também para os outros.
Foi criada a Olivedesportos.
Mas Joaquim Oliveira não estava talhado para esta missão cuja actividade em Portugal ainda era muito pouco reconhecida. A fuga acabou por surgir através de um sistema de publicidade montado nos estádios, explorando os painéis. António e o seu irmão Joaquim continuavam de boas relações com Pinto da Costa, mas este quando, quando foi eleito presidente, resolveu encetar uma pequena guerra com João Rocha, ex-imigrante nos «States» e presidente do clube onde António estava a jogar e a treinar (Sporting). As relações entre ambos esfriaram até á altura em que Pinto da Costa resolveu tentar trazer novamente o António para o seu clube, mas o jogador manteve sempre um comportamento de grande responsabilidade. Para além de alguns defeitos, tinha uma grande virtude: nunca esquecia os seus amigos. João Rocha fora o homem
que lhe dera uma nova oportunidade para voltar ao top do futebol português, que o ajudou a montar a agência de publicidade para o seu irmão num momento difícil para ambos, e António não podia de forma alguma esquecer tudo isso. Recusou o convite, mas Pinto da Costa não perdoou.

A guerra estabeleceu-se entre ambos até ao ódio e continuou até muito depois de António ter abandonado o clube da capital e optado pela actividade de treinador.
António e o seu irmão nem queriam ouvir falar em Pinto da Costa. «Dá comichão só de pensar nele», dizia um deles, o mais novo, mas claramente o mais esperto. A guerra entre os dois clubes e os respectivos presidentes foi aumentando. Pinto da Costa tinha feito com que o seu clube voltasse às vitórias e aos títulos e, como sempre foi amante de uma guerrinha, mantinha a sua bem acesa com João Rocha. A estratégia era de Pedroto:
- No Norte só há um clube com força e na capital há dois, por isso só há uma forma de os poder dividir e lutarmos contra eles. Temos de estar sempre bem com um e abrir guerra ao outro.
Pinto da Costa absorveu a filosofia do «mestre» e acrescentou:
- Tens toda a razão e até podemos alternar essa guerra, abrindo fogo sempre sobre o clube que estiver em melhores condições para poder lutar pelo título.

Frustrada a tentativa de levar para o seu clube o António e em resposta a João Rocha por este ter ripostado com a contratação de dois jogadores da sua equipa, Pinto da Costa numa acção relâmpago contratou um miúdo que na altura estava a dar nas vistas no clube do seu inimigo João Rocha. Nessa altura, estava longe de imaginar que seria aquele jogador que iria dar início ao seu grande golpe de estádio. O miúdo morava no Montijo e era anunciado como um craque de eleição. Mas o clube de Rocha abriu a guarda e, numa noite de lua cheia, um funcionário do clube rival do Norte acelerou no seu Renault até ao Montijo, não se esqueceu de comprar no caminho um pão-de-ló em Rio Maior para oferecer à família do rapaz e trouxe-o para a «Invicta», onde o craque se manteve como que sequestrado durante alguns dias. «É o Eusébio branco», dizia-se, se calhar com alguma legitimidade. O craque era conhecido pelo nome de guerra de Futre.
Entretanto, Reinaldo Teles, depois de ter abandonado Américo de Sá, mesmo antes de este ter perdido as eleições, insinuou-se perante PC e, como este ainda não se tinha esquecido da dimensão das dificuldades que lhe foram criadas pelo rapazinho que era treinador de boxe do seu clube, achou por bem abrir-lhe a porta e oferecer-lhe o lugar de chefe se segurança. Reinaldo Teles, consta, mandou abrir duas garrafas de champanhe «Moelas & Cabron», marca que o Fuinha, um dos seus empregados, não conseguiu encontrar no mercado, mas no fim ninguém reparava que era apenas «Raposeira» o néctar que entrondeava.
Pedroto nunca esteve muito de acordo com essa acção. Era um indivíduo seguro, competente e com grande personalidade e não gostava muito, nem sequer apoiava, acções de violência ou de alguma forma marginais. Lutava por aquilo em que acreditava e tecia estratégias para a sua luta, contestando, vociferando e acusando de uma forma directa.
Tornou-se polémico, irreverente e estabeleceu uma acção de combate virada essencialmente para a arbitragem, cujo controlo partia da capital. Por isso, contratou para a sua equipa um ex-jornalista (Luis César) com a mania das estatísticas, e a sua primeira missão foi a de elaborar um ficheiro de todos os árbitros de 1ª categoria, contendo o maior número de informações. Nome, morada, actividade extra, número de filhos e datas de nascimento de toda a gente do agregado familiar. Como era contra a violência, e Pinto da Costa não se cansava de gabar os dotes de Reinaldo Teles, Pedroto pediu ao presidente para lhe entregar a missão de ir a casa dos árbitros no dia do aniversário destes ou de um dos seus familiares para entregar uma pequena lembrança, independentemente do facto de esse árbitro ter ou não ter apitado qualquer jogo do clube. Era o início de uma operação de charme que resultaria em pleno.
- Reinaldo, hoje tens de ir a Setúbal entregar uma prenda para o filho do árbitro Carlos Fortes, que faz anos- pediu, certo dia, PC.

Reinaldo Teles, sempre pronto para estas acções, lá rumou até Setúbal com um fio de ouro e uma medalha gravada com o nome do filho do árbitro. Mas, quando lá chegou, não encontrou ninguém em casa. Uma vizinha, que estava na varanda a estender roupa, disse-lhe que tinham ido todos a casa da sogra festejar os anos do miúdo. Reinaldo não perdeu tempo:
- Sabe dizer-me onde mora a sogra?
- Mora em Lisboa - respondeu a vizinha, dando de imediato a respectiva morada.
Reinaldo atravessou a Ponte e uma hora depois lá estava na casa da sogra de Carlos Fortes para entregar a respectiva prenda ao filho do árbitro.

Cenas como esta sucederam-se, e todos aceitavam com agrado tamanha amabilidade.
Era um gesto bonito e que ninguém podia condenar. Não estava em causa qualquer jogo ou favor, mas uma amabilidade que não era muito normal no futebol.
Pinto da Costa e Pedroto tinham escolhido a pessoa ideal para executar tal missão.
Reinaldo Teles era bem sucedido quando espelhava a face da inocência, do desinteresse, do bom amigo.
Foram dezenas e dezenas de missões como esta que deram entrada a Reinaldo Teles na intimidade dos árbitros. Depois de um gesto daqueles, era normal que convidassem Reinaldo para um brinde ou mesmo para ficar um pouco na festa familiar. Nasceram amizades e compadrios. Convites para encontros mais para o Norte e de preferência no seu bar de alternos, com mulheres e copos disponíveis. Luísa tinha tomado conta do negócio, e a sua experiência de mulher da vida muito batida ajudava a controlar e a organizar umas cenas de sexo com as miúdas escolhidas pelos árbitros que visitavam Reinaldo no seu estabelecimento.
Pedroto desconfiava da situação e andava assustado com o negócio, mas a doença tomou conta dele e perdeu força, muito embora comandasse todas as operações e estabelecesse estratégias a partir do seu leito, com a cumplicidade do seu fiel adjunto António.
Pinto da Costa não gostava da política que estava a ser adoptada e, picado por Reinaldo Teles, com quem tinha relações já muito estreitas, começou a trair o seu grande amigo Pedroto.
Reinaldo sabia que o técnico não gostava muito do seu estilo nem apoiava algumas das suas acções. Queria dar dignidade ao clube, e um chulo não seria a personagem ideal para representar em diversas acções a grandiosidade do projecto que ele queria atingir.
Reinaldo Teles sabia insinuar-se perante as pessoas. Começou a convidar o presidente para uns copos no seu território. PC nunca se tinha visto rodeado de tantas mulheres. Tinha uma educação de seminarista e nunca lhe passara pela cabeça trair a sua mulher, mas um dia não resistiu às investidas de uma das funcionárias do seu grande amigo Reinaldo Teles. A mulher tinha sido bem escolhida por Luísa e educada por Reinaldo. PC sentiu-se no céu, quando desceu ao leito do amor. Nunca tinha vivido experiência como aquela. Deu consigo a pensar:
- Como é que foi possível andar 40 anos sem conhecer uma experiência como esta?
Reinaldo tinha ganho a sua primeira batalha. O presidente ficou agarrado a ele através do amor de terceiras (e de quartas, quintas, sextas... não sendo também incomum aos sábados...). Vieram outras experiências, outras mulheres e Pinto da Costa andava eufórico.
Depois de Pedroto ter morrido, Reinaldo Teles passou a ser o expoente máximo de Pinto da Costa, e os outros vice-presidentes do clube não andavam nada contentes com a situação. Um dos grandes amigos de PC chegou mesmo a comentar:

- O PC tem uma cabeça extraordinária. O seu mal foi ter começado a ir ao pito aos 40 anos.
Isto dito assim nem parece nada, mas a verdade é que a vida nocturna transformou por completo Pinto da Costa, que pensou, por momentos, ter alcançado o paraíso na Terra.
Reinaldo Teles tinha uma influência extraordinária sobre PC, levando-o mesmo a dizer que só confiava em Reinaldo e no seu gato. Luísa geria o «Play-Girl», o novo bar de Reinaldo, com uma eficiência extraordinária, mas não passava de uma ex-puta, ou mais propriamente de uma puta reformada, mas ainda com boa pinta. A amizade entre ela e PC tinha aumentado graças aos excelentes encontros que ela lhe ia conseguindo com as suas melhores raparigas.
A ligação de Reinaldo Teles ao futebol proporcionava-lhe bons negócios e passos gigantescos na sua ascensão na direcção do clube. A acção de charme com os árbitros evoluía cada vez mais. Os dirigente que não aceitavam Reinaldo iam sendo afastados. Mesmo aqueles que já tinham uma amizade de longos anos com Pinto da Costa. O sexo tinha tomado conta da mente do homem e não havia nada nem ninguém capaz de o fazer parar e encarar a situação de uma forma mais digna. A assiduidade de Pinto da Costa era quase diária e não havia forma de alterar os hábitos adquiridos. As mulheres desfilavam pela sua mesa e ele só tinha de escolher qual queria comer e a forma como o queria fazer. Era norma ser o patrão o primeiro a experimentar as novas empregadas, mas essa função no «Play-Girl» passou a pertencer a PC.
Era a porta aberta para o êxito e a ascensão de Reinaldo Teles.

segunda-feira, novembro 06, 2006

SPORTING x Braga (Hoje/19h15/Tvi)

Hoje o Sporting recebe a equipa minhota do Sporting de Braga, num jogo às 19h15 e com transmissão directa na Tvi, espera-se que os fieis adeptos compareçam para ajudar a equipa numa caminhada que se espera para o titulo.

Nos convocados nota-se a saída de Carlos Martins e a entrada de João Alves, sendo que para o onze se espera...

Ricardo, Caneira, Tello, Tonel, Polga, Custodio, Farnerud, Moutinho, Nani, Alecsandro e Liedson.

FORÇA SPORTING, VENCE POR NÓS!